“A lightning factory explodes/ at sea speed/ nobody knows anything/ about the moon that lives on your nerves.” Spittoon Monthly introduces three harpoon-like poems translated from the Portuguese by their award-winning author, Sara F. Costa.
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The city
of herself to herself
with words replacing the veins,
the city gravitates
in the sensitive fragments of verbs.
a night movement
lives on the highest floors
of solitude.
the great city rushes
in the convocation of men
that are lost and found
in the same space.
the hot age of the earth
dies in my hands as I pass
this sad bridge
which will connect you with Setúbal.
you could not pay
the houses I sell
not even if you double your existence.
the shingles linger in my eyes
remembers the crackling sound
of your presence.
I love to laugh today.
A cidade
de si para si mesma
com as palavras na continuação das veias
a cidade a gravitar
nos fragmentos sensíveis dos verbos.
um movimento noturno
vive nos andares mais altos
da solidão.
a cidade genial precipita-se
na convocação dos homens
que se perdem e se encontram
no mesmo espaço.
a idade quente da terra
morre-me nas mãos ao passar
esta ponte triste
que vai dar a Setúbal.
não conseguirias pagar
as casas que eu vendo
nem que dobrasses a tua existência.
o tejo demora-me nos olhos,
lembra o som crepitante
da tua presença.
hoje amo quem rir.
O Movimento Impróprio do Mundo [The Improper Movement of the World) (Âncora Editora, Portugal, 2016) [Âncora Publishing house, Portugal, 2016]
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need seven nights
I need seven nights, eight days to find me,
write several outputs,
shred time
admire the open music of the trees,
the mythological work of the poem.
awaken the inner violins that take care of the streets
I bring your name burned in my arms,
a poisoned mirror in my throat.
deviating snakes from borders
that separate us
I retreat like a convalescent animal
the cliffs you bring to your shoulders,
oh, the precipices that bend over your name.
a lightning factory explodes
at sea speed
nobody knows anything
about the moon that lives on your nerves.
every night, every day that I find
your body will be the space itself
in the sleeping body near the neck
the primitive mornings
where everything disappears without a trace.
Preciso de sete noites
preciso de sete noites, oito dias para me encontrar,
escrever saídas várias,
retalhar o tempo
admirar a música aberta das árvores,
a obra mitológica do poema.
despertar os violinos internos que se ocupam das ruas
trago o teu nome queimado entre os braços,
um espelho envenenado na garganta.
desvio as serpentes das fronteiras
que nos separam
retiro-me como um animal convalescente
os precipícios que trazes aos ombros,
oh, os precipícios que se curvam pelo teu nome.
uma fábrica relâmpago explode
à velocidade do mar
ninguém sabe de coisa nenhuma
sobre a lua que te vive na ponta dos nervos.
em cada noite, em cada dia que me encontrar
o teu corpo será o próprio espaço
no corpo adormecido junto ao pescoço
as manhãs primitivas
onde tudo desaparece sem deixar rasto.
A Transfiguração da Fome [The Transfiguration of Hunger] (Labirinto, Portugal, 2018) [Labirinto Publishing House, Portugal, 2018]
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The Center of the Universe 宇宙中心
They call it The Center of the Universe
but I do not see stars,
in fact, little is seen in the days of June.
in addition to the intermittent gray earthquake
over these foreign heads,
wudaokou is a daily earthquake.
when the hours wake me up
I do not recognize the prosperous economy.
or the millenary culture,
I just catch my breath.
I burn in the shadows scattered along the street.
I search the shallow dialogues inside me
where Chinese sayings are written
Where Water Flows, a Channel Will Form
This is how the banks replaced the hutongs
and the street vendors came to our phones.
The five mouths drink so many dreams
That it becomes a perpetual drunkenness
with dreamy bikes towards the neck,
cars over the arms,
carbonized brains in the thorax,
gold dragons that spit Taoist foam.
in the distance, they shine in the emperor’s pupils,
observe the muscle of the breath
and play mahjong with our lives.
O Centro do Universo 宇宙中心
chamam-lhe O Centro do Universo
mas eu não vejo estrelas,
na verdade, pouco se vê nos dias de junho
para além do sismo cinzento intermitente
por cima destas cabeças estrangeiras.
wudaokou é um sismo diário.
quando as horas me acordam
não reconheço a economia próspera.
ou a cultura milenar,
limito-me a recuperar o fôlego.
queimo-me nas sombras espalhadas ao longo da rua.
procuro dentro de mim os diálogos rasos
com que se escrevem provérbios chineses
“para onde a água escorrer, formar-se-á um canal”
foi assim que os bancos substituíram os hutongs
e os vendedores de rua passaram a existir no telemóvel.
as cinco bocas bebem tantos sonhos
que se tornaram numa embriaguez perpétua
com bicicletas oníricas em direção ao pescoço,
carros por cima dos braços,
cérebros carbonizados no tórax,
dragões de ouro que cospem espuma taoista.
ao longe reluzem as pupilas do imperador,
observam o músculo do fôlego
e jogam mahjong com as nossas vidas.
A Transfiguração da Fome [The Transfiguration of Hunger] (Labirinto, Portugal, 2018) [Labirinto Publishing House, Portugal, 2018]
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Sara F. Costa is a Portuguese poet who has won several literary prizes in Portugal. She has a degree in Oriental Languages and Cultures and an MA in Intercultural Studies: Portuguese/Chinese from Minho University, Portugal, and Tianjin Foreign Studies University, China. She participated in the International Istanbul Poetry Festival in 2017 and worked at The Script Road-Macau Literary Festival in 2018 and the China-European Union Literary Festival in Shanghai and Suzhou. She translates Chinese poetry into Portuguese. She is currently living in Beijing.
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